A Celebração Eucarística com Vésperas no sétimo dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que ocorre em Aparecida (SP), teve como tema central as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. A missa foi presidida pelo arcebispo de Santa Maria (RS) e membro da Comissão para a Doutrina da Fé da CNBB, dom Leomar Antônio Brustolin. Confira a homilia na íntegra: Estimados irmãos no episcopado, irmãos presbíteros, diáconos, membros da vida consagrada e do laicato. Saúdo também os romeiros e todos que nos acompanham pela rádio, televisão e internet. Hoje celebramos São Marcos, que foi discípulo de São Pedro, evangelista e também o primeiro bispo de Alexandria. Ouvimos o trecho final de seu Evangelho. Ainda que este epílogo não seja da sua autoria, certamente está alinhado ao seu empenho em comunicar a Boa Nova do Reino, por isso ressoa com força, para nós, a palavra de Jesus “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!”. Aquele que é “mandado” pelo Pai suscita outros mandatos-missionários que proclamem a sua Boa Nova. Acabada a missão de Jesus, os que o escutaram começam o seu caminho. Devem percorrer a mesma estrada do Filho, que testemunha o amor do Pai. Aquilo que o Nazareno ofereceu a Israel, os “nazarenos” devem oferecer a todos os povos. A imagem que conclui este texto é muito sugestiva: o Senhor está sentado “à direita de Deus”. Os discípulos, ao contrário, não podem ficar parados, devem ir ao mundo. O caminho do Cristo se perpetua no caminho dos discípulos. No entanto, a sua ausência não é um desaparecimento, mas é outra forma de acompanhar a missão. Os discípulos podem contar com o Emanuel. O modo de Jesus evangelizar deve definir o modo dos seus seguidores atuarem. Ele age sempre como Aquele que serve, disposto a carregar os sofrimentos, os pecados e as incompreensões dos seus irmãos. Ele anuncia a Boa Nova do Reino aos pobres e aos pecadores. Ele faz comunhão de mesa com as pessoas mais diversas. O seu amor vence barreiras intransponíveis e constrói pontes. Ele realiza encontros e diálogos. Vai buscar a ovelha perdida e faz festa quando a resgata. (Lc 15,3) Desce aos lugares mais escuros da injustiça, da discriminação, da avareza, da apatia e onde a dor e o sofrimento chegam ao seu grau mais intenso. O mandato missionário do Senhor começa com o verbo «ir». A missão pressupõe também sempre sair de si, do seu mundo, dos seus interesses, para se aventurar em novos ambientes, entre novas pessoas. A missão requer itinerância. O Papa Francisco recordou-nos muitas vezes essa perspectiva com uma expressão que já se tornou proverbial: a «Igreja em saída ». Enquanto nós bispos do Brasil, estamos num processo sinodal para definir as próximas Diretrizes da Ação Evangelizadora, somos convidados a rezar e refletir sobre a primazia da missão em nossa condição de cristãos. O Papa Francisco, nesse sentido afirmou: “A fé ou é missionária ou não é fé. A fé não é uma coisa só para mim, para eu crescer com fé: isso é uma heresia gnóstica. A fé sempre leva você a sair de si mesmo. (…) A fé deve ser transmitida, deve ser oferecida, sobretudo com o testemunho”. A missão parte de um encontro que muda a vida, como nos recorda o Documento de Aparecida em 2007: conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossa vida, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria. Fazer Jesus ser conhecido é nossa missão. Eis o querigma, o anúncio fundamental que sempre deve ser recordado. Uma nova realidade, entretanto, impele-nos a examinar nossos métodos de anunciar o Reino de Deus. É urgente rever nossa forma de iniciar na fé e fortalecer o senso de pertença numa comunidade eclesial. Igualmente precisamos participar ativamente da promoção do bem comum. Nossa presença nas questões públicas, sociais e culturais são indispensáveis, como ocorreu nas origens do Cristianismo, como atesta a Carta a Diogneto ao dizer: Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. (…) não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. (…) testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Comprometidos com a realidade, somos cidadãos da pátria trinitária. Nossa vida se compromete com a encarnação de Jesus e o Reino de Deus que ele inaugurou, por isso somos missionários. A missão se faz em palavras e gestos. As obras colaboram com a doutrina, e as palavras devem proclamar as obras. Não há como separar a relação entre fé e vida, culto e ética, amor a Deus e amor aos irmãos. Num mundo marcado por ambiguidades e compulsões, somos chamados a vencer a tentação de nos acomodarmos; precisamos evangelizar, anunciando que há outro estilo de vida possível: o do Reino de Deus, experimentado entre o já e o ainda não realizado. Diante dos apelos para distrair e anestesiar o sentido da vida e a ética, somos vocacionados a vencer a era do vazio e a sociedade do cansaço pelo anúncio/testemunho da Boa Nova do Reino. Assim, somos exortados por São Pedro na primeira leitura: Lançai sobre o Senhor toda a vossa preocupação, pois é ele quem cuida de vós. Se o primado da evangelização é de Deus, a missão jamais será um ato solitário, mas sempre assistida pela força do alto. O artesão da Evangelização é o Espírito Santo, derramado sobre os apóstolos em Pentecostes. E um dos sinais de que a comunidade primitiva era dócil ao Espírito de Jesus, é que a cada dia o Senhor aumentava o número dos que eram salvos (At 2,47). Portanto, não podemos ficar numa pastoral de manutenção que faz sempre o mesmo e o mínimo para “manter” o que já